segunda-feira, 29 de setembro de 2008


A Capoeira - 1998

O mundo interno e secreto da mulher é muitas vezes retratado. Neste quadro esse ambiente é ricamente representado numa espécie de homenagem à gravidez e que sendo uma das fases da vida exclusivamente femininas, Paula Rego recria emoções, sentimentos e receios evidenciados nesta etapa aproveitando para igualmente retratar os pensamentos e medos que pairavam na cabeça de Amélia de “O Crime do Padre Amaro” e que contrariamente à obra de Eça de Queiroz, ela aqui é protagonista.
Neste quadro vemos quatro personagens femininas, três das quais têm as mesmas características faciais enquanto a restante é, pela expressão facial, mais velha. Estas três figuras representam a Amélia em três momentos diferentes da gravidez, no centro do quadro e em grande plano vemos duas dessas personagens: a primeira encontra-se sentada e ligeiramente inclinada para a frente o que nos indica, devido a esta posição, que a gravidez ainda está no princípio o que é reafirmado pelo ar sonhador e calmo da personagem. Parece que sonha com o Amaro que a virá salvar daquela “jaula” e com o filho que será o seu libertador; a segunda figura encontra-se também sentada mas agora num cadeirão mais confortável com apoio para os braços e sobre a qual está recostada deixando bem visível a barriga saliente de uma gravidez já avançada, isto conjugado com o facto de ter uma boneca no colo excessivamente pequena indicam que o nascimento do bebé está próximo. O seu rosto já apresenta sinais de preocupação, como também simboliza o receio natural de todas as futuras mães.
Num plano mais afastado vemos Amélia já de cabelo solto a ser ajudada a levantar-se da cama depois do parto por uma mulher mais velha(possivelmente parteira). A grande referencia à obra está no significado dos restantes elementos que compõem o quadro e sabendo que na obra literária original Amaro mata o seu próprio filho e Amélia acaba por morrer também, podemos ver no chão do quarto, num plano próximo do observador, um livro vermelho que nos liga ao texto narrativo de Eça, à sua frente podemos ver um pombo moribundo e sabendo que este animal é usado como correio para o transporte de noticias, entende-se que a noticia esperada ou já comunicada não é boa, será antes o pronuncio de morte. Esta informação é confirmada pela conjugação com a galinha morta que se encontra pendurada no canto superior esquerdo simbolizando a morte do bebé e da própria Amélia como no texto original.

1 comentário:

Anónimo disse...

Olá Isabel
Parabéns pelo teu blog.
Acompanho há alguns anos a obra da Paula Rego e devo dizer-te que gosto daquilo que ela faz.
Não conhecia o primeiro quadro que apresentas no teu blog (A partida), mas o teu comentário ao mesmo leva-me a admirar ainda mais a artista. De facto, é genial a forma como essa obra traduz metaforicamente um momento da vida da pintora.
Continua.
Jaime


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