sábado, 25 de outubro de 2008

Unidade trabalho - 6ºA




6ºA - Recurso das TIC
Os alunos exploraram o software Paint atraves da alteração de cores, do esticar e torcer, alteração de formas etc. Os alunos aderiram de forma entusiasta a esta actividade.

Unidade de trabalho





Unidade de Trabalho - 6ºA

Dando inicio à unidade didáctica da decoração da capa individual do aluno com a visualização de uma aporesentação em Power Point sobre a Vida e Obra de Paula Rego. A análise às obras de Paula Rego foram realizadas, incialmente, atraves de alguma orientação e salientando o recurso às figuras de estilo, nomeadamente dupla significancia, simbologia formal e cromática, hiperbole e personificação.

A abordagem e debate das temáticas tratadas nas obras de Paula Rego exigem algum cuidado por parte do adulto de forma a não chocar os alunos mais sensiveis quando de fala de temas como aborto, a posição da mulher na sociedade, obesidade/anorexia entre outros. Os alunos da turma mostraram-se interessados e bastante participativos.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Processo de criação



Cada artista tem diferentes necessidades para desenvolver o processo de criação, o ambiente envolvente é fundamental para deixar emergir sentimentos, emoções ou ideias interiores. Paula Rego assume que este é um dos aspectos vitais para promover os momentos de criação e libertação.
O seu estúdio em Londres situa-se numa zona periférica, numa rua onde algumas casas parecem abandonadas e a numeração das portas é irregular mas, segundo José Sousa Machado, é curioso verificar que várias pessoas que lá moram conhecem a artista enquanto pintora e sobretudo enquanto pessoa caracterizando-a como simpática, afável, generosa e humilde.

O seu ateliê mais parece um armazém de adereços, a quantidade de brinquedos e roupas é impressionante e consegue-se facilmente reconhecer alguns bonecos retratados nos seus quadros. Este estúdio é composto por dois espaços amplos: num primeiro espaço podem-se ver desenhos em cima das mesas enquanto no segundo espaço se vêem trabalhos em cavaletes ou pendurados na parede o que nos indicia um trabalho simultâneo em várias obras, por sua vez, o telhado em duas águas permite uma iluminação abundante em ambos os espaços.


Num dos cantos pode-se ver uma sanita que se posiciona descomplexadamente à vista de quem se encontra no local assim como o lava-loiça que dá apoio ao espaço da pintura sendo este o local de limpeza dos pincéis, paletas e panos usados.


Cada canto é uma descoberta, ainda segundo o jornalista José Machado, a quantidade de coisas espalhadas deixa adivinhar o mundo mágico que a envolve, o guarda-roupa composto por peças de vários estilos e épocas, contem peças que “eram da minha avó e outras da minha mãe, tenho aqui roupas compradas na Opera House, em Convent Garden e roupas compradas em segunda mão (…) também comprei algumas no teatro.”[1]
[1] Paula Rego in MACHADO, José (2007): “Quarto de Brinquedos” Lisboa, Tabu, p: 34

Num outro canto podem-se ver uma grande quantidade de bibelôs, flores e bonecos de plástico e peças de cerâmica que se misturam com fotografias.

Os bonecos de maior dimensão, enquanto uns são comprados, a grande maioria são construídos pela artista em pasta de papel ou em pasta de moldar industrial, tem ainda um esqueleto feito pela neta que entrou agora para a escola de arte e outros bonecos relacionados com os quadros das personagens da Disney: Pinóquio, Gepeto, as avestruzes, a Branca de neve etc. que foram feitos pelo genro Ron Mueck, este já não trabalha com ela visto ter sido convidado por Charles Saatchi a fazer bonecos a nível profissional depois de ter exposto os bonecos que fez para Paula Rego. São estes bonecos que depois de vestidos são colocados estrategicamente no cenário juntamente com os adereços compondo a cena que posteriormente será registada “através do desenho à vista com modelo ‘vivo’ (…) como no tempo da Slade School.”[1]
[1] Ibid. p:34

quarta-feira, 15 de outubro de 2008



Estes bonecos são a base dos seus trabalhos e em que facilmente os identificamos com as personagens dos seus quadros, como é o caso do Pillowman ou Príncipe porco em que o boneco foi construído em papel maché, colocado no cenário junto com as personagens que dividiam a cena e depois de rigorosamente desenhado foi pintado. É de salientar que antes de passar ao registo gráfico da cena, Paula Rego explora as diferentes posições, relações e aspectos cénicos.



Imagens reveladoras do seu processo de criação tendo sempre como base o modelo e com representação de elementos pictóricos através do desenho á vista. Aparentemente realista, a sua obra tem como principal característica a provocação do observador que o torna cúmplice da discriminação, crueldade, marginalidade, dor, medo e sofrimento retratado nos seus quadros


A luta por vencer o preconceito da mulher com carreira profissional e luta travada durante anos para vencer num mundo essencialmente masculino (o mundo artístico) faz com que hoje se sinta realizada e feliz

Vida e obra


Maria Paula Figueiroa Rego nasceu a 26 de Janeiro de 1935 em Lisboa, filha única de José Fernandes, engenheiro electrónico e embora fosse Português tinha uma educação anglófona com grandes e marcantes tradições Inglesas, a mãe Maria José Avanti Quaresma Paiva Figueiroa Rego, pertencia a uma classe de mulheres que não precisava de trabalhar para viver,"era uma sociedade mortal, para as mulheres ricas. Elas eram encorajadas a não fazer nada. Eu nunca quis ser assim.”[1] Por sua vez também sendo Portuguesa foi educada segundo uma tradição franco-portuguesa da alta burguesia. Devido a estas diversidades culturais e a uma mentalidade de abertura por parte dos pais, Paula Rego cresce num meio culturalmente favorável e privilegiado para a época. Devido ao emprego do pai na Marconi em Chelmsford, Essex, os pais vão viver para Inglaterra, deixando-a em Portugal na casa dos avós paternos, que ela adorava.[1] Paula Rego in RAIMES, Melissa (2003): “Paula Rego” p: 5


O seu interesse artístico manifestou-se muito precocemente e as suas memórias de infância mais marcantes remetem-nos para as suas vivências passadas na casa dos avós paternos enquanto os pais viajavam. O avô de Paula foi co-fundador do Sport Lisboa e Benfica. “Eu queria pintar quadros desde quando era bem jovem. Também queria ser como os criados, mulheres em sua maioria, e acabei entrando num mundo de mulheres"[1]. No entanto desde sempre duvidou das suas capacidades artísticas, para essa insegurança contribuíram as lições da D. Violeta, professora da 4ª. Classe que a ensinou a desenhar. «Aos nove anos já tinha peneiras de querer ser pintora, mas a D. Violeta dizia que eu não tinha jeito nenhum. Olhava para os meus desenhos, dizia que o lado direito da chávena desenhada não condizia com o lado esquerdo, e, pumba, dava-me um safanão.»[1] Paula Rego in BRADLEY, Fiona


Paula Rego vivia na quinta dos avós, local recheado de animais domésticos como: patos, gansos, pintos, galinhas, coelhos etc. Reconhece que foi uma menina privilegiada e de como foi protegida, lembra: "Eu tinha medo do escuro, do demónio, de tudo. Passava a maior parte do meu tempo desenhando e brincando. Desenhar era uma linguagem, com muito tempo livre dedicava-se ao desenho”[1] e à medida que ia aperfeiçoando ia dando largas à sua imaginação criando histórias. O desenho e a pintura eram uma forma de entrega, o contacto directo com os materiais de pintura nomeadamente com o papel sobre o qual se deitava no chão permitia a sua inserção no desenho, com o desenho espontâneo gerado pelo gesto livre representava as paisagens da Ericeira, retratava as histórias horrendas e terríficas da sua tia Ludgera, recriava as ilustrações do Blanco y Negro e do Pluma y Lapiz do seu avô materno e transpunha para o papel todas as emoções despoletadas pelas ilustrações e gravuras do seu pai.Com apenas catorze anos e devido ao seu inegável gosto pela arte, recebe do pai o seu primeiro livro de arte intitulado “Fantastic Art: Dada and Surrealism” de Alfred Barr que veio a exercer influencias sobre a sua arte e no seu gosto artístico. Inserida numa sociedade Portuguesa onde reinava o medo, a repressão, o isolamento ao exterior e uma total falta de liberdade de expressão, reconhece ter sido privilegiada por ter algum acesso a informações do mundo e por ter a facilidade em conseguir autorização para viajar para o exterior devido à vida profissional dos pais. Frequenta a escola primária no Estoril onde prosseguiu estudos no colégio St. Julian’s School de Carcavelos regido pelo tipo de educação inglesa.[1] Paula Rego in Melissa Raimes


As suas composições já sugeriam novas narrativas, estimulavam o observador a decifrar a mensagem embora estas fossem compostas de elementos pictóricos que a rodeavam e faziam parte das suas vivências, “a obra de Paula Rego é muito pessoal, são coisas com que ela brincava quando era pequena”[1], já nesta fase recorria ao registo gráfico como forma de expressão de emoções como o medo, injustiça, inveja e terror.Não podemos ignorar os obstáculos da mentalidade nacional porque se por um lado se vivia num Portugal oprimido e isolado culturalmente e onde os artistas não eram muito bem vistos, por outro estamos a falar de uma carreira dominada pelo homem e num ambiente cuja mentalidade atira com a mulher para as tarefas domésticas e em que ela seria educada para ser uma boa dona de casa, a mãe extremosa e a esposa dedicada.Em 1954, o pai que sempre apoiou e incentivou matricula-a na Slade School of Art o que a conduz para um mundo de experiências artísticas e pessoais. È de salientar que Paula Rego nunca perdeu o contacto com as suas origens e mantinha-se informada da situação sócio-politica do país. Em 1956 termina os estudos e sai de Slade School onde já anteriormente tinha conhecido Victor Willing que embora fosse casado envolveu-se com a artista. Esta paixão por Victor foi avassaladora. Renderam-se aos encantos um do outro de tal forma que em 1956 nasce Caroline, a primeira filha do casal e Paula regressa a Portugal. Em 1959 depois do divórcio de Vic casam-se e mudam-se para a Ericeira onde se instalam nunca perdendo o contacto com Inglaterra e nesse mesmo ano nasce, em Londres, a segunda filha, Vitoria.O marido, Victor Willing começa a encoraja-la a explorar novas técnicas e durante uma visita a Londres visitam uma exposição de Jean Dubuffet que lhe desperta o prazer da representação e da exploração de sentimentos em que a criação livre é o pilar do trabalho.Constrói nos seus registos gráficos um vocabulário de formas em que os elementos se relacionam uns com os outros e algumas das suas obras reflectem as preocupações da artista sobre a situação vivida no país. [1] PALLA, Maria José (2003): “ Momento, 93 rostos, registo fotográfico dos artistas plásticos e fotógrafos portugueses nascidos antes de 1960”


Em 1961 nasce o seu terceiro filho Nicholas.Esta fase é caracterizada pela influência surrealista reveladas pelas qualidades formais, temáticas e técnicas de exploração, começando a ver a sua obra reconhecida é convidada para expor com o London Group.Paula Rego inicia-se na exploração de novas técnicas e materiais como a tinta acrílica em vez do óleo, as cores brilhantes e vivas, as superfícies planas e o reduzido tempo de secagem foram um atractivo.A partir de 1963 divide-se entre Portugal e Inglaterra onde ela e o marido se dedicam inteiramente à arte e em 1965-1966 fez a sua primeira exposição individual na Galeria de Arte Moderna, Sociedade Nacional de Belas Artes em Lisboa que se veio a revelar de sucesso. Esta foi uma época muito favorável à sua carreira artística, no entanto ao nível pessoal foi uma fase muito complicada, em 1966 o pai de Paula Rego morre deixando a cargo da artista a empresa da família e logo depois foi diagnosticada esclerose múltipla ao seu marido.Durante os anos 70, ao introduzir a técnica da pintura acrílica paralelamente com as colagens explorou a expressividade inspirada nos contos de fadas portugueses e de histórias tradicionais o que se veio a revelar bastante importante na sua vida artística.Em 1971 foi nomeada e recebeu o Prémio dos Críticos, Sóquil mas em contrapartida e como é característica da doença, aos poucos Victor deixou de pintar deixando a responsabilidade da gestão familiar para Paula, tornando-se, no fundo sem o desejar, uma empresária bem sucedida até 1974 que embora simpatizassem com a Revolução e ansiassem pela desejada liberdade, esta trouxe-lhes também a falência da empresa de aparelhos eléctricos que tinha herdado do pai.

Sendo esta uma fase de pós revolução foi também uma fase de instabilidade política com constantes mudanças de poder governativo, muitas empresas faliram agravando os problemas económicos do país. Ao nível artístico, o interesse que a artista manifestava pelos contos portugueses e internacionais valeu-lhe em 1975 uma bolsa de estudo atribuído pela Fundação Gulbenkian para que aprofundasse esse seu estudo do qual resultaram obras extraordinárias que foram expostas em 1978 na Royal Academy of Art na mostra de Arte Contemporânea Portuguesa e dos quais obteve as melhores críticas.Perante esta turbulência social do pós 25 de Abril, Paula Rego juntamente com Victor mudam-se novamente para Inglaterra onde se dedica à arte mas sem perder o contacto regular com Portugal onde expõe regularmente, “mantêm o cordão umbilical ao país de origem”[1]. Expõe pela primeira vez na Galeria 111.Com uma carreira em ascensão tão evidente em 1983 é convidada para leccionar na Slade School mas dando sempre continuidade à sua carreira como pintora sendo que no ano seguinte foi premiada com TWSA Touring Exhibition. As suas obras começam a valorizar e a Tate Gallery adquire-lhe uma primeira obra, os convites para expor são cada vez mais e aceitando alguns convites expõe individualmente em Nova Iorque e recebe ainda o prémio Benetton/Amadeo de Souza-Cardoso atribuído pela Casa de Serralves no Porto.Em 1988 o marido, aquele que sempre foi o seu maior crítico mas principalmente o seu maior colaborador intelectual e conceptual, morre. Perde o seu pilar e teve que ganhar um novo equilíbrio emocional e artístico, ao acompanhar, durante anos, ao avanço da doença, transporta essas emoções para os seus trabalhos.[1] Kátia Guerreiro in RTP online


Nesse mesmo ano faz uma retrospectiva artística na Fundação Gulbenkian. Pelo segundo aniversário da neta Cármen elabora um livro de poemas infantis do qual surgem 31 água fortes que compõem o seu primeiro grande portfólio gráfico tendo sido impressos por Paul Coldwell, Nursery Rhymes foi o grande impulso da gravura na sua carreira.Em 1990 Paula Rego foi primeira artista associada da National Gallery e durante este período é convidada para várias exposições individuais e colectivas. Nesse mesmo ano realiza-se uma das grandes exposições da artista em Portugal que decorreu no Centro Cultural de Belém, onde é vista por 62 mil visitantes.Em 1998 é galardoada com o Prémio Bordalo da Casa da Imprensa em Lisboa onde conhece o escritor, Anthony Rudolph com quem inicia uma relação sendo o seu actual companheiro. Sendo um novo suporte na sua vida pessoal e profissional, isto porque é um homem que aceita de bom grado posar para Paula Rego o que lhe permitiu elaborar uma série de trabalhos onde representa a figura masculina, este passou a ser um dos seus modelos mesmo quando é necessário vestir-se de mulher e é a partir desta fase que a representação masculina ganha espaço nas suas obras. No ano 2003 bate recordes de afluência no Museu de Serralves, no Porto com cerca de 300 mil visitantes.



Em 2005 foi convidada, pelo Presidente da República da altura, Jorge Sampaio, a pintar uma série de oito quadros sobre a vida da Virgem Maria para a Capela do Palácio de Belém, a sede da Presidência da República. No ano seguinte foi convidada pelo mesmo a pintar o seu retrato tendo ficado exposto na Assembleia da Republica, assim como sete quadros que estão em exposição permanente na entrada da mesma. Em 2007 participou com os seus quadros, no esclarecimento e debate que deu origem ao referendo sobre o aborto, tendo manifestado a sua satisfação com a alteração da lei referindo que depois de 33 anos de democracia finalmente se iria ter liberdade de escolha.

terça-feira, 7 de outubro de 2008


Branca de Neve a brincar com o troféu do Pai - 1995

Nesta imagem vemos, no primeiro plano, uma figura feminina que embora use um vestido juvenil branco, símbolo de inocência. Embora apresente um rosto de mulher madura, a ideia de que se trata de uma jovem é reforçada pelo laço vermelho do cabelo. Esta figura encontra-se sentada com as pernas ligeiramente abertas e tendo ao colo uma cabeça de veado que numa primeira interpretação nos indica que o pai pode ser um caçador, daí que seja tido como troféu. Podemos ainda fazer uma segunda interpretação, recorrendo à análise através do recurso às figuras de estilo entre as quais a dupla significância. Através desta podemos analisar o mesmo elemento pictórico segundo várias perspectivas, esta figura de estilo indica-nos que há elementos com grande poder simbólico que nos remetem para o domínio sexual.
Se para algumas culturas, nomeadamente a Brasileira, o veado é um símbolo de homossexualidade, para as culturas europeias, o veado é representativo da masculinidade que devido aos seus grandes chifres representa alguém que não é fiel ao casamento cedendo à sedução de qualquer mulher caracterizando-se por uma grande quantidade de conquistas.
Num segundo plano vemos uma outra figura feminina que embora, segundo a lei da representação da perspectiva, deva ser representada mais pequena por se encontrar mais afastado do observador, também nos parece ilógico que esta seja tão pequena o que nos conduz a outra interpretação simbólica: considerando o penteado e vestuário verificamos que se trata da madrasta que foi colocada fora da acção principal denunciando que esta perdeu protagonismo.
A expressão de glória estampada no rosto da Branca de Neve associada ao facto de ter ao colo um símbolo sexual indica-nos que esta conquistou a atenção do pai exibindo-se com o troféu enquanto afasta a madrasta para fora da batalha. Tal como veremos à frente na interpretação do quadro “Branca de Neve e a Madrasta” também neste quadro à evocação simbólica do Complexo de Electra.

Esponsais, segundo “Mariage à la mode by Hogart - 1999

Este é mais um quadro onde é apresenta uma narrativa pictórica, no entanto, nas suas obras é a mulher que assume todos os papéis activos.
No centro uma mulher elegante empoleira-se no braço do cadeirão situando-se acima das outras personagens indicando superioridade; à sua frente vemos uma senhora que embora mais humilde revela também algum poder podendo ser uma nova-rica e o seu filho esconde-se nervosamente atrás dela. Por trás destes últimos vemos Dionísia (personagem do Crime do Padre Amaro) que sendo parteira, aborteira, conselheira e intermediária observa a cena de longe. Do lado esquerdo temos uma menina vestida de branco como sinal de inocência afaga com os pés o cão (ironicamente sinal de fidelidade) e olha de esquina para o seu pai que se vê reflectido no espelho do lado esquerdo do quadro e que parece vigiar atentamente a venda da filha. A mensagem mais pesada é simbolicamente representada no quadro do lado direito que funciona como um presságio ou antevisão do jogo de poder sexual que está eminente e no qual está representado um homem bem vestido que observa uma mulher despir-se. Nesta imagem está representada a superioridade masculina que “comprara” a esposa e a torna sua escrava sexual, por sua vez, a mulher representa uma figura inferior, sem vontade própria e numa posição de humilhação. A mulher é representada como um joguete ou brinquedo nas mãos masculinas.

Rapariga com feto

Devido á continuidade da lei da penalização do aborto, muitas mulheres continuavam a ser constituídas arguidas e neste ano sentaram-se no banco dos réus 7 mulheres envolvidas em abortos clandestinos. Levantou-se novamente o debate sobre o tema e a necessidade urgente de novo referendo e que se tornou tema de conversa publica.
Paula Rego retoma o assunto em forma de provocação e chamando à atenção para a quantidade de abortos que se continuavam a fazer clandestinamente. Este quadro representa uma figura feminina que olha de esguelha fugindo o confronto com o observador. A figura encontra-se sentada numa cadeira algo desconfortável e junto de um lavatório, o seu colo ainda é perceptível o cordão umbilical ligado a um elemento que se encontra no colo da mulher e que representa um feto. Este quadro transmite a falta de condições, a pobreza, a degradação e o sofrimento de alguém que toma uma decisão tão pessoal e interna.
Mais uma vez, Paula Rego, provoca o observador tornando-o cúmplice da discriminação que a mulher era alvo perante a decisão, muitas vezes dolorosa, de se confrontar com a necessidade de um aborto. Esta decisão seria dolorosa não só pela decisão em si, visto que muitas destas mulheres eram levadas e “obrigadas” a abortar pelos mais variados factores, mas também pela desumanização dos espaços, a frieza do ambiente e a falta de cuidados básicos de higiene destes locais onde é praticado o aborto clandestino.
Sendo uma necessidade de algumas mulheres, não será da responsabilidade da sociedade “criar” o mínimo de dignidade para essas mulheres? Não é preferível realizar um aborto do que compactuar com situações de carência, dificuldades económicas, dependências de substâncias ilícitas e até de maus tratos? São estas as questões colocadas ao observador que o obrigam a reflectir sobre um tema que preferimos ignorar.

Pietá – 2002

Nesta série de oito trabalhos vemos “Pietà”, sendo uma das obras que, segundo a jornalista Ana Gastão (2003) foi considerada a mais intrigante, isto porque sabendo que Jesus morreu com trinta e três anos, qual seria o objectivo da artista ter representado Jesus e a Virgem com aspecto de criança? Na análise espacial vemos que o quadro é composto por duas personagens sendo uma feminina e outra masculina, aparentemente com idades próximas. A figura feminina encontra-se sentada no chão com uma saia vermelha e o fundo está pintado com cores quentes. A figura feminina olha objectivamente o céu e segura a segunda figura pelo tronco enquanto a figura masculina tem a cabeça pendente, o corpo aparentemente inanimado e quase nu mas sem qualquer tipo de ferida, ambas as personagens são jovens.
A Virgem Maria é aqui representada como uma rapariga simples que ao ser confrontada com uma gravidez assume o papel de mãe contra o preconceito da sociedade. A representação de Jesus como um jovem aponta para o facto de que um filho permanecerá eternamente criança para uma mãe. A associação destas duas figuras jovens torna a ideia da morte ainda mais dolorosa, por um lado a forma intensa como a Virgem segura o filho e olha para o céu em busca de auxílio, por outro lado a ideia de alguém que morre ainda jovem é mais dorida.
O sentimento de fé é-nos transmitido fortemente pelo olhar e pela postura das personagens, que é abertamente manifestado por Jorge Sampaio: “ uma religiosidade mais ou menos agnóstica; porventura, estarei a dizer uma blasfémia. Mas toda a gente sabe que sou agnóstico. Sinto, no entanto, existir um misticismo nestes quadros.”[1]
O recurso à representação do vestuário contemporâneo transporta a cena para a actualidade tornando-a intemporal. Perante este quadro, a artista evoca a fé, a dor da perda e a elevação do espírito.
[1] Jorge Sampaio na entrevista a Ana Marques Gastão

Convulsão - 2000

Este quadro representa uma cena interior com quatro figuras femininas. Em primeiro plano, no centro e bem iluminada, está uma mulher deitada no chão, no segundo plano e também no centro, está uma outra mulher mais nova, contorcida num cadeirão. Em terceiro plano, à esquerda e diluída no fundo, aparece uma terceira mulher observando a cena, à direita, reflectida no espelho, está uma menina segurando um boneco.
O tema evoca um drama centrado em duas mulheres, a mulher deitada exprime sofrimento, enquanto a que está no cadeirão se afasta com repulsa, ao drama. As outras duas assistem desligadas da acção.
A técnica do pastel explora os traços faciais e anatómicos das figuras, acentuando as emoções, o que também é revelado através da escolha das cores e da luz, as diferentes idades das figuras permitem-nos deduzir que se trata de um drama familiar entre mãe e filha (salientando que é uma temática muito explorada pela pintora). Ao agarrar a perna da cadeira e ao direccionar o olhar, símbolo de ligação entre as duas, a mãe pede ajuda enquanto a filha se afasta, repudiando-a. A mulher de preto, que será a empregada, não intervêm na acção rejeitando qualquer tipo de cumplicidade com alguma das partes. O espelho simboliza outro tempo, talvez a infância da filha, simbólico é também o facto da mãe não aparecer reflectida, as dificuldades e a complexidade das relações entre as pessoas são um tema frequente nas obras da pintora.

A Prova – 1990

O quadro “A Prova” enquadra-se nas temáticas de crítica social. Vemos que a acção se desenrola no interior de uma casa em que podemos ver quatro personagens femininas.
No centro do quadro encontra-se a personagem principal à volta da qual se distribuem as restantes. Nota-se que é jovem embora não pareça feliz, o vestido branco, símbolo de pureza, encontra-se acinzentado em certas zonas que poderá apenas representar o grande tufado da saia ou então beliscar a pureza da sua personagem.
O olhar desta personagem dirige-se para o infinito, o braço esticado e a mão cerrada transmitem uma sensação de desagrado. Esta sensação é reforçada pela posição da menina que está sentada no sofá vermelho do lado esquerdo. O sofá vermelho, normalmente associado ao pecado, ampara a menina que também ela de branco revela uma postura de desilusão, derrota… descanso do guerreiro depois de travada a luta. A menina tem a cabeça pendente, parece dormir ou tentar desligar-se da realidade. Esta personagem ao representada como um boneco indica que a forma como algumas meninas da sociedade eram tratadas, os casamentos combinados e arranjados sem darem hipótese à mulher de escolher. As meninas eram tratadas como bonecos que obedeciam aos interesses dos pais e serviam muitas vezes como moeda de troca de favores.
As duas personagens que rodeiam a personagem principal apresentam-se vestidas de preto, cor sombria e triste, e assumem uma posição de decisão. A figura feminina do lado direito está ricamente vestida e aponta para a noiva de forma autoritária, por sua vez, a personagem da esquerda encontra-se ajoelhada indicando subordinação.

Branca de Neve com a Madrasta

No quadro “Branca de Neve e a Madrasta” a cena é constituída por duas personagens que interagem. O cenário foi restrito a um sofá e um tapete colorido. A figura que representa a madrasta está bem vestida e penteada, bem como apresenta sapatos de salto alto enquanto que a segunda figura apresenta vestuário juvenil onde se reconhecem as roupas características da Branca de Neve, conjugadas com uma fita vermelha no cabelo e umas confortáveis meias de lã.
A cena representada é ambígua na interpretação, vemos a madrasta que embora bem vestida parece uma serviçal que ajuda a menina a vestir-se, em contrapartida pode conduzir-nos à interpretação sexual, onde a madrasta ajuda a criança a preparar-se para satisfazer os prazeres sexuais do pai. Sob o ponto de vista da Psicologia, este quadro poderá ser representativa do Complexo de Electra que nos remete para a paixão entre as filhas e os pais, assim, a própria criança pode desejar sexualmente o pai de tal forma que o ódio pela mãe ou madrasta domina a acção.
Esta ajuda por parte da madrasta pode ser entendida como uma tentativa de humilhação de prova de inutilidade, isto conjugado com o facto de duas personagens estarem vestidas com dois estilos tão diferentes pode acentuar esse sentimento de humilhação. Enquanto a madrasta apresenta um vestido justo e curto, conjugado com um penteado sofisticado e sapatos de salto alto formando um conjunto elegante, sensual e sedutor, a Branca de Neve apresenta roupa infantil bem como o penteado que está preso casualmente e que, embora esteja bem justo à cabeça, a imaturidade é acentuada pela fita vermelha sem fim utilitário e apenas decorativa juntamente com as meias de lã que formam um conjunto pouco atraente e muito desajeitado.

Pelas minhas mãos...

Eu...