domingo, 28 de setembro de 2008


A Guerra - 2003
As fontes de inspiração são as mais variadas, as notícias reais que nos assolam todos os dias também poderão ser uma fonte rica de inspiração, nesta fase com o despoletar da guerra do Iraque, Paula Rego vê nessas noticias um tema de exortação dos nossos medos. Já havia retratado a guerra colonial, já se tinha manifestado sobre questões políticas e sociais, agora a guerra travada entre o ditador militar Saddam Hussein e o seu povo e entre ele e George Bush formam um conjunto de medos, ideias e revoltas envoltos numa nuvem de secretismo e mistérios, ainda são referenciados relatos de violações, abusos sexuais e de poder, humilhações e torturas por parte das tropas americanas.
Neste quadro vemos, tal como o título indica, os horrores da guerra. No centro do quadro e em grande plano vemos duas figuras femininas com cabeças gigantescas de coelhos, a figura que está ao colo, tem o rosto ensanguentado fazendo-nos lembras as imagens da guerra onde mães fogem com as filhas feridas ao colo. Em baixo mas em primeiro plano vemos uma cegonha que segundo Rosengarten (2004) tem o cordão umbilical ligado a uma coelha que pelo vestuário vemos ser jovem e cuja expressão de sofrimento ergue os olhos para o céu, este conjunto de elementos poderá indicar uma gravidez não desejada numa jovem e em tempo de guerra; por sua vez Sandra Santos (2005) diz que a cegonha tem a sua pata por baixo da saia da menina que com expressão de sofrimento nos indica violação e da qual surge uma gravidez (representado pela cegonha). Em frente a estas figuras vemos uma outra vestida de vermelho, com laços nas orelhas e com ar zangado e que esconde algo nas mãos e de frente vemos uma senhora com um pau que faz lembrar a heroína portuguesa, a padeirinha de Aljubarrota que olha para esta coelha e que embora seja bastante maior não demonstra qualquer receio avançando sobre ela de braço firme no pau.
No canto superior esquerdo vemos um insecto gigante que aparentemente acaricia o cão de aspecto velho, no entanto a pata levantada pode indiciar alguma agressividade. Por trás destas figuras vemos uma personagem de olhos fechados que carrega ao ombro uma ave morta representando os que fogem do campo de batalha transportando consigo os entes queridos mesmo quando estão mortos Sandra Santos (2005). No canto superior direito temos um gato que parece de loiça, onde estão representados aqueles que num período de guerra fecham os olhos e fingem ser de barro, mas ainda segundo a mesma autora, o barro também se quebra.

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