sábado, 27 de setembro de 2008


"O Jardim do Interrogador" (2000)

Este quadro remete-nos para uma interpretação social e militar. No centro do quadro, bem iluminada está uma figura que embora esteja vestida com trajes masculinos tem expressão feminina, vemos ainda do lado direito uma ovelha que tem o cinto atado ao pescoço, bem como a perna do animal que se encontra preso por um cordel que termina num novelo. Num segundo plano do lado direito vemos uma figura feminina que olha para o chão, este quadro ridiculariza o homem, sobretudo aquele que aparentemente detêm o poder como é o caso dos militares. Paula Rego viveu um longo período da sua vida sob a ditadura de Oliveira Salazar onde se viviam grandes pressões sociais e militares e onde testemunhou as mais diversas pressões por parte dos mesmos.
Esta atmosfera foi transposta para o ano deste quadro quando despoletou a Guerra do Iraque, foram vários os relatos chegados pelos meios de comunicação social em que se dava conta das atrocidades que os militares exerceram sobre o povo Iraquiano e onde muitas vezes as mulheres tiveram que se submeter aos caprichos sexuais dos militares como forma de pouparem os familiares de torturas. Esta imagem é representativa das situações acima referidas, em qualquer uma delas, o homem exerce poder sobre a mulher submetendo-a aos seus desejos sexuais e tal como foi referido, a figura central embora tenha elementos de trajes masculinos ligados à polícia, vemo-la com luvas vermelhas que se relacionam com o sexo, bem como a ausência das calças e a figura feminina que parece ainda se estar a vestir.
A ovelha presa pelo cinto indicará o poder que a figura principal exercerá sobre o indefeso animal, o cordel que termina num novelo poderá indicar os meandros e labirintos em que se envolve o poder policial, poder exercido sobre os mais frágeis que se encontram à sua mercê, a figura feminina que parece compor-se está semi – despida na parte superior do corpo e o desvio do olhar indicará vergonha. Mais uma vez, olhando para a figura que se supõe representar um homem, verificamos feições femininas, tentando desta forma ridicularizar esta figura de poder aparente, e representando assim o poder da feminilidade.

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Pelas minhas mãos...

Eu...