sábado, 25 de outubro de 2008
Unidade de trabalho
Unidade de Trabalho - 6ºA
Dando inicio à unidade didáctica da decoração da capa individual do aluno com a visualização de uma aporesentação em Power Point sobre a Vida e Obra de Paula Rego. A análise às obras de Paula Rego foram realizadas, incialmente, atraves de alguma orientação e salientando o recurso às figuras de estilo, nomeadamente dupla significancia, simbologia formal e cromática, hiperbole e personificação.
A abordagem e debate das temáticas tratadas nas obras de Paula Rego exigem algum cuidado por parte do adulto de forma a não chocar os alunos mais sensiveis quando de fala de temas como aborto, a posição da mulher na sociedade, obesidade/anorexia entre outros. Os alunos da turma mostraram-se interessados e bastante participativos.
quinta-feira, 16 de outubro de 2008
Processo de criação
O seu estúdio em Londres situa-se numa zona periférica, numa rua onde algumas casas parecem abandonadas e a numeração das portas é irregular mas, segundo José Sousa Machado, é curioso verificar que várias pessoas que lá moram conhecem a artista enquanto pintora e sobretudo enquanto pessoa caracterizando-a como simpática, afável, generosa e humilde.
[1] Paula Rego in MACHADO, José (2007): “Quarto de Brinquedos” Lisboa, Tabu, p: 34
[1] Ibid. p:34
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
Vida e obra
terça-feira, 7 de outubro de 2008
Nesta imagem vemos, no primeiro plano, uma figura feminina que embora use um vestido juvenil branco, símbolo de inocência. Embora apresente um rosto de mulher madura, a ideia de que se trata de uma jovem é reforçada pelo laço vermelho do cabelo. Esta figura encontra-se sentada com as pernas ligeiramente abertas e tendo ao colo uma cabeça de veado que numa primeira interpretação nos indica que o pai pode ser um caçador, daí que seja tido como troféu. Podemos ainda fazer uma segunda interpretação, recorrendo à análise através do recurso às figuras de estilo entre as quais a dupla significância. Através desta podemos analisar o mesmo elemento pictórico segundo várias perspectivas, esta figura de estilo indica-nos que há elementos com grande poder simbólico que nos remetem para o domínio sexual.
Se para algumas culturas, nomeadamente a Brasileira, o veado é um símbolo de homossexualidade, para as culturas europeias, o veado é representativo da masculinidade que devido aos seus grandes chifres representa alguém que não é fiel ao casamento cedendo à sedução de qualquer mulher caracterizando-se por uma grande quantidade de conquistas.
Num segundo plano vemos uma outra figura feminina que embora, segundo a lei da representação da perspectiva, deva ser representada mais pequena por se encontrar mais afastado do observador, também nos parece ilógico que esta seja tão pequena o que nos conduz a outra interpretação simbólica: considerando o penteado e vestuário verificamos que se trata da madrasta que foi colocada fora da acção principal denunciando que esta perdeu protagonismo.
A expressão de glória estampada no rosto da Branca de Neve associada ao facto de ter ao colo um símbolo sexual indica-nos que esta conquistou a atenção do pai exibindo-se com o troféu enquanto afasta a madrasta para fora da batalha. Tal como veremos à frente na interpretação do quadro “Branca de Neve e a Madrasta” também neste quadro à evocação simbólica do Complexo de Electra.
Este é mais um quadro onde é apresenta uma narrativa pictórica, no entanto, nas suas obras é a mulher que assume todos os papéis activos.
No centro uma mulher elegante empoleira-se no braço do cadeirão situando-se acima das outras personagens indicando superioridade; à sua frente vemos uma senhora que embora mais humilde revela também algum poder podendo ser uma nova-rica e o seu filho esconde-se nervosamente atrás dela. Por trás destes últimos vemos Dionísia (personagem do Crime do Padre Amaro) que sendo parteira, aborteira, conselheira e intermediária observa a cena de longe. Do lado esquerdo temos uma menina vestida de branco como sinal de inocência afaga com os pés o cão (ironicamente sinal de fidelidade) e olha de esquina para o seu pai que se vê reflectido no espelho do lado esquerdo do quadro e que parece vigiar atentamente a venda da filha. A mensagem mais pesada é simbolicamente representada no quadro do lado direito que funciona como um presságio ou antevisão do jogo de poder sexual que está eminente e no qual está representado um homem bem vestido que observa uma mulher despir-se. Nesta imagem está representada a superioridade masculina que “comprara” a esposa e a torna sua escrava sexual, por sua vez, a mulher representa uma figura inferior, sem vontade própria e numa posição de humilhação. A mulher é representada como um joguete ou brinquedo nas mãos masculinas.
Devido á continuidade da lei da penalização do aborto, muitas mulheres continuavam a ser constituídas arguidas e neste ano sentaram-se no banco dos réus 7 mulheres envolvidas em abortos clandestinos. Levantou-se novamente o debate sobre o tema e a necessidade urgente de novo referendo e que se tornou tema de conversa publica.
Paula Rego retoma o assunto em forma de provocação e chamando à atenção para a quantidade de abortos que se continuavam a fazer clandestinamente. Este quadro representa uma figura feminina que olha de esguelha fugindo o confronto com o observador. A figura encontra-se sentada numa cadeira algo desconfortável e junto de um lavatório, o seu colo ainda é perceptível o cordão umbilical ligado a um elemento que se encontra no colo da mulher e que representa um feto. Este quadro transmite a falta de condições, a pobreza, a degradação e o sofrimento de alguém que toma uma decisão tão pessoal e interna.
Mais uma vez, Paula Rego, provoca o observador tornando-o cúmplice da discriminação que a mulher era alvo perante a decisão, muitas vezes dolorosa, de se confrontar com a necessidade de um aborto. Esta decisão seria dolorosa não só pela decisão em si, visto que muitas destas mulheres eram levadas e “obrigadas” a abortar pelos mais variados factores, mas também pela desumanização dos espaços, a frieza do ambiente e a falta de cuidados básicos de higiene destes locais onde é praticado o aborto clandestino.
Sendo uma necessidade de algumas mulheres, não será da responsabilidade da sociedade “criar” o mínimo de dignidade para essas mulheres? Não é preferível realizar um aborto do que compactuar com situações de carência, dificuldades económicas, dependências de substâncias ilícitas e até de maus tratos? São estas as questões colocadas ao observador que o obrigam a reflectir sobre um tema que preferimos ignorar.
Nesta série de oito trabalhos vemos “Pietà”, sendo uma das obras que, segundo a jornalista Ana Gastão (2003) foi considerada a mais intrigante, isto porque sabendo que Jesus morreu com trinta e três anos, qual seria o objectivo da artista ter representado Jesus e a Virgem com aspecto de criança? Na análise espacial vemos que o quadro é composto por duas personagens sendo uma feminina e outra masculina, aparentemente com idades próximas. A figura feminina encontra-se sentada no chão com uma saia vermelha e o fundo está pintado com cores quentes. A figura feminina olha objectivamente o céu e segura a segunda figura pelo tronco enquanto a figura masculina tem a cabeça pendente, o corpo aparentemente inanimado e quase nu mas sem qualquer tipo de ferida, ambas as personagens são jovens.
A Virgem Maria é aqui representada como uma rapariga simples que ao ser confrontada com uma gravidez assume o papel de mãe contra o preconceito da sociedade. A representação de Jesus como um jovem aponta para o facto de que um filho permanecerá eternamente criança para uma mãe. A associação destas duas figuras jovens torna a ideia da morte ainda mais dolorosa, por um lado a forma intensa como a Virgem segura o filho e olha para o céu em busca de auxílio, por outro lado a ideia de alguém que morre ainda jovem é mais dorida.
O sentimento de fé é-nos transmitido fortemente pelo olhar e pela postura das personagens, que é abertamente manifestado por Jorge Sampaio: “ uma religiosidade mais ou menos agnóstica; porventura, estarei a dizer uma blasfémia. Mas toda a gente sabe que sou agnóstico. Sinto, no entanto, existir um misticismo nestes quadros.”[1]
O recurso à representação do vestuário contemporâneo transporta a cena para a actualidade tornando-a intemporal. Perante este quadro, a artista evoca a fé, a dor da perda e a elevação do espírito.
[1] Jorge Sampaio na entrevista a Ana Marques Gastão
Este quadro representa uma cena interior com quatro figuras femininas. Em primeiro plano, no centro e bem iluminada, está uma mulher deitada no chão, no segundo plano e também no centro, está uma outra mulher mais nova, contorcida num cadeirão. Em terceiro plano, à esquerda e diluída no fundo, aparece uma terceira mulher observando a cena, à direita, reflectida no espelho, está uma menina segurando um boneco.
O tema evoca um drama centrado em duas mulheres, a mulher deitada exprime sofrimento, enquanto a que está no cadeirão se afasta com repulsa, ao drama. As outras duas assistem desligadas da acção.
A técnica do pastel explora os traços faciais e anatómicos das figuras, acentuando as emoções, o que também é revelado através da escolha das cores e da luz, as diferentes idades das figuras permitem-nos deduzir que se trata de um drama familiar entre mãe e filha (salientando que é uma temática muito explorada pela pintora). Ao agarrar a perna da cadeira e ao direccionar o olhar, símbolo de ligação entre as duas, a mãe pede ajuda enquanto a filha se afasta, repudiando-a. A mulher de preto, que será a empregada, não intervêm na acção rejeitando qualquer tipo de cumplicidade com alguma das partes. O espelho simboliza outro tempo, talvez a infância da filha, simbólico é também o facto da mãe não aparecer reflectida, as dificuldades e a complexidade das relações entre as pessoas são um tema frequente nas obras da pintora.
O quadro “A Prova” enquadra-se nas temáticas de crítica social. Vemos que a acção se desenrola no interior de uma casa em que podemos ver quatro personagens femininas.
No centro do quadro encontra-se a personagem principal à volta da qual se distribuem as restantes. Nota-se que é jovem embora não pareça feliz, o vestido branco, símbolo de pureza, encontra-se acinzentado em certas zonas que poderá apenas representar o grande tufado da saia ou então beliscar a pureza da sua personagem.
O olhar desta personagem dirige-se para o infinito, o braço esticado e a mão cerrada transmitem uma sensação de desagrado. Esta sensação é reforçada pela posição da menina que está sentada no sofá vermelho do lado esquerdo. O sofá vermelho, normalmente associado ao pecado, ampara a menina que também ela de branco revela uma postura de desilusão, derrota… descanso do guerreiro depois de travada a luta. A menina tem a cabeça pendente, parece dormir ou tentar desligar-se da realidade. Esta personagem ao representada como um boneco indica que a forma como algumas meninas da sociedade eram tratadas, os casamentos combinados e arranjados sem darem hipótese à mulher de escolher. As meninas eram tratadas como bonecos que obedeciam aos interesses dos pais e serviam muitas vezes como moeda de troca de favores.
As duas personagens que rodeiam a personagem principal apresentam-se vestidas de preto, cor sombria e triste, e assumem uma posição de decisão. A figura feminina do lado direito está ricamente vestida e aponta para a noiva de forma autoritária, por sua vez, a personagem da esquerda encontra-se ajoelhada indicando subordinação.
No quadro “Branca de Neve e a Madrasta” a cena é constituída por duas personagens que interagem. O cenário foi restrito a um sofá e um tapete colorido. A figura que representa a madrasta está bem vestida e penteada, bem como apresenta sapatos de salto alto enquanto que a segunda figura apresenta vestuário juvenil onde se reconhecem as roupas características da Branca de Neve, conjugadas com uma fita vermelha no cabelo e umas confortáveis meias de lã.
A cena representada é ambígua na interpretação, vemos a madrasta que embora bem vestida parece uma serviçal que ajuda a menina a vestir-se, em contrapartida pode conduzir-nos à interpretação sexual, onde a madrasta ajuda a criança a preparar-se para satisfazer os prazeres sexuais do pai. Sob o ponto de vista da Psicologia, este quadro poderá ser representativa do Complexo de Electra que nos remete para a paixão entre as filhas e os pais, assim, a própria criança pode desejar sexualmente o pai de tal forma que o ódio pela mãe ou madrasta domina a acção.
Esta ajuda por parte da madrasta pode ser entendida como uma tentativa de humilhação de prova de inutilidade, isto conjugado com o facto de duas personagens estarem vestidas com dois estilos tão diferentes pode acentuar esse sentimento de humilhação. Enquanto a madrasta apresenta um vestido justo e curto, conjugado com um penteado sofisticado e sapatos de salto alto formando um conjunto elegante, sensual e sedutor, a Branca de Neve apresenta roupa infantil bem como o penteado que está preso casualmente e que, embora esteja bem justo à cabeça, a imaturidade é acentuada pela fita vermelha sem fim utilitário e apenas decorativa juntamente com as meias de lã que formam um conjunto pouco atraente e muito desajeitado.